Apontamento Monográfico
da Paroquia de S. Bartolomeu de Fontiscos
Carta
do Sacristão de S. Bartolomeu Treplicalho da Silva ao seu amigo Zé Bacalhoeiro
sineiro da Igreja da Senhora das Dores da Maia
No Jornal
de Santo Tirso edição de 6 de Setembro de 1883, na pagina 3, encontramos uma
carta do Sacristão de S. Bartolomeu ao seu amigo Zé Bacalhoeiro, sacristão da
Igreja de Nossa Senhora das Dores, da Maia, carta esta onde começa pelas
saudações habituais, seguindo-se um relatos da festa em honra de S. Bartolomeu
que tinha acontecido no dia 26, com procissão, missa cantada com a presença de
muitos devotos, mas sobre tudo exalta os poderes do Santo contra o demónio.
…”
Amigo, agradeço as notícias e descrição que me
mandas da tua pomposa romaria, e eu para corresponder ao teu mimo, vou em
poucas palavras descrever-te cá a festinha do meu patrão, S. Bartolomeu, que
teve lugar no dia 26 do passado Agosto”…
…” No dia
seguinte uma procissão acompanhada por alguns devotos, uma missa cantada e
ouvida com muita devoção e um sermão escutado com religiosa atenção, eis aqui a
festa com que teve de contentar-se o inimigo do brazabus”…
A Lenda do Milagre de S. Bartolomeu
Reza a história que havia no mosteiro de Landim, um
frade de nome Anastácio que padecia de uma enfermidade incurável.
Por via disso, não podia tomava banho, o que
obviamente dava origem a que criasse hospedeiros indesejáveis, para além do mau
cheiro, por isso, era censurado pelos outros frades que não se conformavam com
a atitude do seu comportamento e afastavam-se dele.
Certo dia, alguns frades tiveram de ir à pequena
capela de S. Bartolomeu de Ervosa cumprir determinadas obrigações. Frei
Anastácio mostrou vontade de os acompanhar, o que lhe foi imediatamente negado,
apesar disso o martirizado frade não desistiu, meteu os pés ao caminho e lá
foi.
Chegado á margem do rio, o bom frade reparou que os
seus companheiros não lhe tinham deixado nenhum barco, e como a ponte da
Lagoncinha ainda ficava longe, lançou o capote à água e saltou para cima dele e
assim atravessou o rio sem se molhar, e sem esforço.
Os frades que tinham recusado a sua companhia, ao
saberem da milagrosa travessia, rodearam frei Anastácio dos maiores carinhos e
honras, mas tudo o frade recusou, advertindo os companheiros que enquanto
tivesse as graças de S. Bartolomeu de Ervosa, não temeria transpor os mais
difíceis obstáculos que Satanás opusesse as ás suas intenções.
Depois de conhecido o sucedido no Mosteiro de
landim foi considerado santo.
Notas Soltas
Curiosidades linguísticas
Cabeceira
– Rapariga que habitualmente dá umas cabaças, o mesmo que infiel ou desleal.
Mal haja a cabeceira
Tanto cabaço tem dado.
Deus permita, a virgem queira
Que tenha algum guardado.
Linguagem da
Medicina Popular
Achacado – mesmo que adoentado
…” Eu, cada vez que vou a um enterro, fico a cismar
toda a noite, e acordado achacado”…
Camilo castelo Branco, vinte horas de Lit, pag. 222.
Acidente – o mesmo que ataque epiléptico.
Aduela de Menos – desequilíbrio mental.
…”Olha como ela ri!...esta rapariga tem aduela de
menos, não tem Rosinha”…
Camilo Castelo Branco, Filha do arced,, pag. 122.
Assistência – Menstruação.
Bicho – termo popular para designar o herpes e
outras dermatoses
…” e por fim talhou o bicho com perfeição e
felicidade à Mariquinhas”…
Camilo Castelo Branco, Scenas contemp., pag. 43.
Caroço - gânglio enfartado.
Camilo & Eça
No
tempo destes dois geniais romancistas, era moda dizer mal de tudo, desde os
homens às Instituição, desde à Pátria até à religião
Camilo,
anotava a lápis na margem dos livros que lia, ásperos comentários, e um dos
principais visados era o Eça, a propósito da Relíquia, Camilo escreveu o
seguinte:
…”Este
livro como romance é uma pochade, em que todos os caracteres são caricaturas, e
armadilhas às gargalhadas de baixa comedia, os plágios são frequentes”…
Eça,
em público deprecia igualmente Camilo, afirmando que hesita, amontoa, retorce,
embrulha e faz um pastel confuso que nem o diabo lhe pegava.
Fotografo afamado
Em
1901, eram famosos os trabalhos fotográficos de José Maria Carneiro de
Varziella, o Jornal de Santo Thyrso de 21 de Abril de 1901, tece rasgados
elogios a este fotógrafo.
…”
Não diremos amador, porque è mestre, fotógrafo distintíssimo, que se vivesse numa
cidade como o Porto ou Lisboa teria o nome laureado, uma reputação condigna.
Vivendo num meio acanhado os trabalhos do nosso amigo são pouco conhecidos, mas
em compensação, apreciados por todos.
Ditados Populares sobre barbeiros
Nas barbas do homem tolo
Aprende o barbeiro novo
Nem barbeiro mudo
Nem cantador surdo
O meu barbeiro não deixa coiro, nem cabelo
A
Quadrilha do Lourenço
Este conhecido e
mítico salteador, que roubava tudo e todos com extrema crueldade, tinha a sua
área de influência em quase toda a região de Vila Nova de Famalicão de onde era
natural, fazendo por vezes incursões juntas á Ponte da Lagoncinha, Argemil, e
“vale dos Asnos”, palco das suas frequentes façanhas. Deste quadrilheiro
Alberto Pimentel relata-nos uma tentativa de assalto sem êxito ao Mosteiro
Beneditino de Santo Tirso, na sua edição de 1902 de “Santo de Riba D’ Ave”, pag.
54.
Refira-se a este
propósito e tendo em conta a frequência destes assaltos, que o rei D. Miguel,
por decreto de 14 de Novembro de 1829, determinou que quem descobrisse o autor
ou autores de tais roubos receberiam de premio a quantia de 500$000 reis.
A tradição oral
oferece-nos inúmeras histórias de assaltos acompanhados de violência extrema em
nada semelhantes ao seu contemporâneo Zé do Telhado, que era chefe da quadrilha
mais famosa do Marão, conhecido por "roubar aos ricos para dar aos pobres"
e por isso muitos consideram-no como o Robin dos Bosques português, acabou por
ser preso e na Cadeia da Relação conhece Camilo Castelo Branco em Março de
1859. Contrariamente ao que muita gente pensa o Zé do Telhado nunca efectuou
qualquer assalto na nossa região e não existe nenhum registo da época que
ateste tal facto.
O Lourenço ladrão,
não acabou na cadeia, nem atravessado por uma bala numa encruzilhada, quando se
sentiu sem forças recorreu à mendicidade para sobreviver, sendo certa manhã,
encontrado morto na sua cama.
No Coração do
Minho, entre Bougado e Famalicão, a Terra Negra foi viveiro de bandoleiros e
dali saíram as maltas das celebres das quadrilhas do Lanhoso, como o “Torto”, o
“Mata Mouros”, o “Apóstato”, o “Negro”, o “Jamanta”, o “Mata Sano”, o “Tábuas”,
o “Faísca”, os “Vendas”, os “Ribeirões””, o “Pap’Açúcar”, o “Engenha”, o “Santa
Marinha”, o “Facade-Mato”, o “Conca” e muitos outros.
Vilalva
Alberto
Pimentel, na sua edição do “Lobo da Madragoa” datada de 1904, imortaliza este
local e a zona circundante do rio Sanguinhedo na Ponte velha, através da
personagem “Teresinha de Vilalva”.
…”a
paisagem era tão bela como sempre fora.
Os
casais brancos esmaltavam sorridentes a verdura da vegetação frondosa, pelas
duas encostas dos outeiros que formam o pequeno vale do Sanguinhedo. Desses
alegres casais adviera a povoação de Vila Alva - Vilava. Do alto do Pedro, um
dos outeiros, vem a aldeia descendo graciosamente disposta, até ao rio, e daí
sobre até ao cimo do Penedo, que é o segundo outeiro, não menos povoado e
viridente.
O
riacho apesar de minguado de águas no Verão não chega a secar nunca. Vai
deslizando por entre pedregulhos com mais ou menos facilidade, segundo a
estação. Afluente do Ave, leva-lhe o seu curso, que em todo o caso é
insignificante.
Uma
ponte antiga, de granito – essa resistente e veneranda pedra que em todo o
norte desafia os séculos – previne a hipótese, aliás pouco provável do Sanguinhedo
transbordar interceptando a povoação”…
Achei interessante o texto sobre "A Quadrilha do Lourenço". É um tema que me interessa e gostaria de saber mais. Onde obteve a informação da lista dos outros bandoleiros que refere? Obrigado
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